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Marcela, que se tornou símbolo nas ocupações de São Paulo | Foto de Marlene Bergamo |
Em meio à onda de ocupações das escolas, o que não faltam
são questionamentos em torno do assinto, assim como dúvidas quanto a
legitimidade do movimento.
Há alguns meses, em São Paulo, o movimento ocorreu como
protesto ao plano de reestruturação das escolas, onde muitas seriam fechadas, e
aqui no Rio, desde fevereiro, as ocupações começaram devido à crise que se
instaurou na educação, pela má gestão dos recursos.
Escolas negligenciadas, professores em greve e sem salários,
assim como muitos outros de servidores do estado, alunos sem aula, mas com a
maior arma de todas na mão: o conhecimento dos direitos.
Não tem merenda, não tem água, não tem ar, não tem material
básico pra escola funcionar, e assim, o osso estado vai empurrando a educação
com a barriga, e ainda há os que acham que as ocupações são um absurdo. Absurdo
é professor ter que ter várias matrículas para poder sobreviver. Absurdo é
aluno ser dispensado porque a escola não tem recursos. Absurdo é a gente
continuar achando que vai tudo bem com a educação do estado.
De tudo o que eu tenho visto, o que mais me emociona é o
engajamento e a firmeza dos secundaristas. Quem me dera ter essa consciência política
e dos meus direitos quando eu tinha essa idade...
Infelizmente fui criada pra ser levada com a maré, aceitando
e sem resistência. Infelizmente cresci como parte de uma parte da população que desde
sempre achou que tinha que fazer parte de uma engrenagem, que nasceu pra apertar
parafuso, como em “Tempos Modernos”, do Chaplin. Mas felizmente, essa galera
nova ta vindo com tudo, e com coragem, representando até os que pensam como
eu pensava. São idealizadores de uma mudança, que hoje incomoda, porque tira
muita coisa da zona de conforto, mas que é para um bem maior.
Felizmente também, eu consegui virar a chave, e percebi que
eu sou o único agente de mudança da minha vida, que não preciso fazer parte da
massa que nasceu pobre para servir, só porque nasci dentro dessas condições.
Aprendi a me posicionar, a reivindicar, a não me acomodar, a não aceitar
migalhas do sistema.
Minha intenção não é trazer questões de cunho político, mas
acho que essas questões precisam ser sim debatidas. O movimento é legítimo, e a
cada dia eu me surpreendo mais com a organização e maturidade com que isso vem
se encaminhando.
Pode ser que você não ache que a ocupação seja a melhor
saída, e não deveria ser, se as coisas fossem geridas do jeito certo, com
honestidade e transparência. O momento é delicado político e economicamente
falando, mas é assumindo nosso papel de cidadão, que conseguiremos virar a
página. Os estudantes estão em luta hoje, para que tenhamos uma educação melhor
amanhã.
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