Mas o que é isto? Você acaba de abrir uma conta corrente e já ganha um
cartão de crédito, cheque especial, crédito direto ao consumidor, financiamento
de veículos... só porque apresentou sua renda mensal! Quer dizer, não precisa
pedir, conta historinha triste justificando o uso do dinheiro, ele está lá
lindinho olhando para você, te seduzindo!
O seu saldo na conta corrente é R$1.000, mas lançam tantos créditos
aprovados que quando você checa seu extrato acha que tem R$ 10 mil limpinhos
para gastar! (Pior que já vi gente incorporando o cheque especial ao salário).
Ah, se dinheiro fosse fácil ganhar assim e não houvesse custo algum...
Mas, é aí que está o grande problema.
Você vê a facilidade de usar o seu cartão de crédito e ainda tem a
possibilidade de não precisar pagar todo o valor da fatura. Só que estamos
falando de custo do dinheiro, ou seja, juros, e cada vez está maior. Ontem, o
Banco central divulgou o absurdo que é cobrado anualmente no rotativo* do
cartão de crédito: 414,3%. Para efeito de comparação, a taxa de juros, a Selic,
que é parâmetro para as aplicações, está em 14,25% ao ano.
Então pensa aliviado que pagou o seu cartão porque se deu conta que
ele é mais uma forma de administrar seu orçamento ao longo do mês, mas deixou
sua conta corrente negativa, usando o seu limite do cheque especial.
Acho que não tenho uma boa noticia, pois esta taxa também subiu para
62,3% ao ano em setembro.
Caro amigo, seu bolso é único, ou seja, só há uma entrada e muitas
saídas ou fontes de consumo, como cartões, dinheiro e cheques. Por isso, volto
a frisar a importância de montar um orçamento. Só assim, analisando, somando
suas entradas e todas as saídas, inclusive os custos com os juros poderá saber
se terá possibilidade de assumir novas despesas.
No exemplo acima, está se pagando uma dívida e fazendo outra, que é
bastante cara, porém não tão quanto a do cartão de crédito (comparando 414,3%
com 62,3%).
Obviamente, o mais recomendável é quitar todas as dívidas e não fazer
nenhuma, vivendo dentro do padrão que a renda permite. Mas sei que a vida real,
muitas vezes, não é assim. Então, o que pode ser feito é avaliar as receitas e
cortar as despesas com os supérfluos, com o intuito de reduzir ao máximo o
rombo no orçamento.
Fazer o levantamento das dívidas, elencando as com taxas mais altas.
Sem esquecer de considerar o CET (Custo Efetivo Total) e o prazo. Procure pagar
as que têm as maiores taxas primeiro.
Com esta informação, negocie junto às instituições financeiras,
empresas de cartão de crédito e recuperação de dívida. Normalmente, estão
abertas às negociações. Procure ir com um valor cabível ao seu orçamento,
lembrando que tem outras contas a serem pagas.
Desde 2014 já é possível fazer portabilidade de crédito entre as
instituições financeiras. Importante ficar atento não só a taxa da operação que
está transferindo assim como todos os outros custos de tarifas que possam
existir na conta. Pode ser que não compense mudar de banco.
Se não chegarem a um acordo, o PROCON ou a Defensoria Pública, através
do NUDECON (Núcleo de Defesa do Consumidor) podem ajudar. Outro auxilio que
está a caminho são as mudanças no Código de Defesa do Consumidor, aprovado pelo
Senado no início deste mês. Nas propagandas estão proibidos os termos “sem
juros”, “gratuito”, “sem acréscimo” e “com taxa zero”. As intenções são evitar
o superendividamento, além das pessoas não caírem nas armadilhas do “dinheiro
fácil”.
Por fim, o importante é encontrar o ponto de equilíbrio entre consumir
de forma consciente e satisfatória dentro do que a renda disponível permite,
trocando o consumo imediato por um bem maior no futuro guardando sempre para os
sonhos.
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