Crescemos sempre ouvindo dos mais
antigos que estabilidade na vida financeira significava ter a casa própria e
carro e, melhor ainda, se já estivessem quitados.
Porém, com o custo de vida cada
vez mais alto, estes dois sonhos de consumos das famílias começa a ser posto a
prova.
Há algum tempo, li, num dos
livros do Gustavo Cerbasi, que o ideal era que casais recentemente casados, em
processo de formação de patrimônio e crescimento profissional, não deveriam
comprar logo um imóvel. A alegação dada por ele, é que se o casal fixasse
residência comprando um imóvel com o compromisso de pagá-lo por 30 anos, eles
não teriam a possibilidade, ou ficariam limitados, a aceitarem propostas de
emprego fora da sua região. Confesso que quando li esta parte do livro Casais Inteligentes
Enriquecem Juntos, discordei de imediato, afinal de contas estava no processo
de pagamentos das nossas prestações e já bem próximo do casamento. Porém,
somente quando estudei mais sobre planejamento financeiro, pude ter um olhar
mais técnico e bem menos emocional. Daí então, me lembrei do livro, e sim, entendia
o sentido da argumentação. Com a nossa origem europeia, a minha é portuguesa,
ter o "tijolo" sempre foi motivo de segurança.
Mas admito que, quando estava
pagando as prestações, antes de casar, não considerava os custos mínimos da
moradia além das prestações. Só pensava que teria estas despesas, mas sem
quantificá-las. E nunca havia pensado na possibilidade de morar de aluguel.
Onde as prestações nunca terminam e não tenho nada - este era o meu pensamento.
Erro! Porque durante o financiamento o imóvel também não é de quem paga. Ele é
a garantia do banco que fez seu financiamento. Contudo, é olhando pela
flexibilidade que o aluguel pode te propor, eu sugiro que os jovens que
pretendam comprar imóvel, reconsiderem esta questão para avaliar bem se vale a
pena. Atentar se está alinhado com seus objetivos profissionais. Além do mais,
é uma forma de plano de aposentadoria.
Considere que tem uma renda bruta
mensal de R$ 5.000, 30% do seu salário deveria ser o máximo destinado à
moradia, ou seja, R$ 1.500. Então, se o aluguel for de R$ 1.000, poderia
destinar R$ 500 por mês, que é o limite recomendável para comprometer a renda com
financiamento imobiliário. Há aplicações, como títulos públicos, com juros
reais de 6% ao ano. O que acredito ser uma boa reserva financeira para a
velhice.
É claro, que como o mercado
imobiliário está com os preços em queda, há de se ponderar algumas
oportunidades que possam surgir para adquirir um imóvel. Mas sempre considere o
limite do comprometimento da renda bruta, pois terá que se desfazer logo se não
horar os pagamentos.
Se pensar em comprar um imóvel como
formar de montar patrimônio, acredito que o momento é deixar a carteira de
investimentos mais líquida possível. Com investimentos que possam remunerar te protegendo
da inflação com ganho real. De acordo com o índice FipeZap Locação, o Yield do
aluguel, a taxa de retorno em relação ao valor de mercado do imóvel, está
baixíssimo. Nos dois primeiros meses do ano, já acumula rentabilidade negativa
de -0,4%, enquanto que a inflação está 2,2% e o CDI 2,1%, no mesmo período.
Da mesma maneira a questão de
comprar um carro. E carro é umas das maiores demonstrações de exposição de
status quo da nossa sociedade, especialmente para os homens. Mas já fez o
levantamento dos custos e depreciação que o carro tem?
O carro não tem só combustível e
IPVA a serem pagos. Há de se contabilizar custos com manutenção, depreciação de
10% ao ano do valor, estacionamento e seguro. Outra questão a ser incluída, é o
custo de oportunidade, ou seja, o que é perdido por não investir o valor do
carro a preço de mercado.
Em matéria publicada no jornal
Valor Econômico em 22/02/2016, o professor Samy Dana, apresentou um comparativo
em entre usar, com as mesmas premissas, o próprio carro, táxi, Uber (X¹ e
Black²) e Zazcar – um serviço de locação de veículos por hora. Ele chegou à
conclusão que num percurso de 20 km, utilizar o Uber X custa por ano R$ 16.656,
e o carro próprio R$ 19.010. Já para 40 km, o carro próprio apresenta custo de
R$ 27.418 e Uber Black, foi o mais caro, por R$ 43.948 anuais.
Como o professor ressaltou na
matéria, o carro tem conforto e praticidade, porém, o que deve ser considerado
é que isso tem um preço e precisa estar dentro do orçamento, sem onerar ainda
mais o orçamento.
Conclusão: o
que precisa ser questionado sempre é: Cabe no meu bolso o custo por ter um
imóvel e/ou um carro?
Se este é
realmente o seu grande sonho, Planeje-se Financeiramente!
¹ Uber X – preço base de R$ 3,
mais R$ 0,35 por minuto e R$ 1,43 por quilômetro rodado.
² Uber Black – preço base de R$
5, mais R$ 0,40 por minuto e R$ 2,42 o Km rodado.
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