No último dia 13 de novembro estive na palestra da CVM que abordou o
tema “Qualidade de Vida e Bem-Estar Financeiro para maiores de 50 anos.” Excelente
evento que me chamou atenção para um tema que via acontecer, mas não sabia que
era com tanta frequência nos lares brasileiros.
A primeira frase que ouvi dita pelo superintendente da CVM, Frederico Shun,
foi “Educação Financeira não tem idade.” E eu completo dizendo que, uma vez
aprendida é usada para toda vida.
Foi surpreendente ouvir o que é tratado como violência financeira
contra o idoso. Foram apresentados casos em que familiares pegam o cartão
bancário ou de crédito do idoso e usam para benefício próprio, muitas situações
não assistindo ao idoso, o deixando em situação financeira deficitária. Outros
casos de ofertas abusivas por instituições financeiras e oferecendo crédito
consignado e até aproveitando a debilidade para ofertar produtos que não
precisam, mas para que o banco possa atingir metas.
Tenho um caso na família onde um idoso foi convencido pelo banco a
aplicar todo seu recurso em previdência privada (PGBL) e, de repente, ele
passou mal, foi internado. Seu dinheiro, que serviria para custear seu tratamento,
estava bloqueado numa aplicação inadequada ao seu perfil. O valor só foi
liberado dias depois. Infelizmente e coincidentemente, no dia do seu
falecimento.
Aqui cabe uma explicação sobre previdência privada. O plano pode ser
utilizado num processo de planejamento sucessório, pois como já mencionei em
outro texto, este recurso não entra no inventário. Então, ainda que a pessoa
seja idosa, ter parte dos seus investimentos em VGBL é recomendável, pois
atenderá às primeiras necessidades dos beneficiários após a perda do ente.
Porém, no caso citado, a aplicação foi em um PGBL, um produto que
seria vantajoso para ele se realizasse a declaração de IR pelo modelo completo,
o que não acontecia, além de não haver qualquer diversificação de investimento,
dado que concentrou todo o dinheiro numa aplicação que não tem resgate imediato.
Entendo que nesta situação houve sim violência contra o idoso. A
expressão é forte, mas o termo é este mesmo. Usou do desconhecimento do cliente
para oferecer um produto que não atendia ao perfil dele.
Provavelmente, foi apresentada uma rentabilidade bruta superior à
poupança, uma conversa simpática e ele aceitou fazer a aplicação sem considerar
a liquidez caso precisasse resgatar com urgência.
Da mesma maneira que acontece com investimentos, neste evento, foi
relatado que a oferta nos caixas eletrônicos para idosos fazerem empréstimos também
é abusiva. E isso é bastante preocupante, pois qual é o discernimento que o
idoso tem para calcular o quanto da sua renda está sendo comprometida com
aquele empréstimo? Não estou generalizando, mas se temos grande parte da
população carente ou pouco instruída financeiramente este numero é grande.
A Dra. Valeska Marinho que tratou do tema “Como a Tomada de Decisão
Afeta as Suas Finanças? Uma Visão dos Idosos”, contou que a capacidade de
decisão vai ficando mais prejudicada e que dependendo do grau de educação e
escolaridade fica ainda pior.
Sabemos que tomar decisões baseados 100% em razão ou 100% na emoção
não existe, somo humanos e incapacitados de desmembramos isso dentro de nós.
Pois, mesmo quando estamos tomando decisões que dizemos serem racionais há
sempre um víeis emocional intrínseco nesta decisão.
Por isso, é importante que o idoso possa contar com a opinião de
especialistas e se, informe cuidadosamente sobre os riscos envolvidos antes de
decidir por uma compra, empréstimo ou investimento.
Acredito que uma boa dica é: se você não consegue explicar para outra
pessoa no que está investindo, talvez este produto não seja adequado a você.
Enfim, não tem jeito, estamos todos envelhecendo e daqui a alguns anos
seremos 35% da população. A demanda está crescendo e precisamos nos adequar e
nos preocupar em como gostaríamos de ser atendidos daqui a 30 anos. Com
certeza, não como os casos que eu ouvi e tantos outros que conheço.
E não pense que não vai acontecer com você. Hoje está garotão, mas
amanhã será o vovozinho, meu amigo! Melhor se preocupar com o tema agora!
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