Papo de Quinta: Ah, ela trabalha?





     Quando resolvi empreender para ser uma mãe ativa, a única certeza que eu tinha era de que eu não queria terceirizar o Miguel. Esse foi o cerne da minha mobilização. Depois, entrou o processo de reinvenção, de juntar tudo que eu sabia fazer, tinha estudado e comecei a avisar aos meus amigos e rede de contato para entender como a demanda casaria com meus talentos.
 
     Só isso já deu um trabalhão e um mega cansaço além de ansiedade e expectativa exacerbadas, que geram muito estresse e uma incerteza de sucesso recheando o processo. Mas, os caminhos foram se abrindo e apresentando possibilidades, o que não me deixou um dia de folga sequer, sempre imbuída de criar, executar, divulgar, atender o meu cliente, seja com marketing digital, revenda de semi jóia através de loja virtual e presencialmente em eventos e visitas a cliente, aulas de inglês virtuais e presenciais, produção de fofurices de costura e venda na loja virtual específica e assim foi...além disso, cuidar do meu filhote, da casa, de mim, da comida, da vida social da família, aprender a dirigir, aprender a escolher uma forma de trabalho e sustento e assim me joguei nessa nova realidade da Marcelle Rebelo.
 
     Eu costumo dizer que se soubesse que seria uma mãe ativa, presente e apaixonada pelo processo de criar filhos, cuidar da família intensamente, teria feito um colchão enorme para viver de investimentos. Mas, era uma alma workaholic, que achava inclusive que não teria filhos e viveria da minha paixão, que era trabalhar.
 
    Quanta mudança, quanta novidade para administrar, dessa nova mulher que nasceu com a maternidade.
 
     Eu não parei de trabalhar, desde que saí do meu último emprego formal e desde que fechei meu SPA alternativo, mas recebia de amigos e familiares vários e-mails e marcações com vagas de trabalho, concurso e muita gente se mostrou abismada com a minha escolha, com a minha nova forma de viver e me perguntava se eu não sentia falta de trabalhar fora, de ter um trabalho, de almoçar fora, de sair, ver gente, ver a moda, de ter meu dinheiro e eu dizia: "Não, eu não sinto falta. Tenho um trabalho ou muitos trabalhos até e tenho vida social, minha casa vive cheia de gente, falo com pessoas o dia todo na internet e talvez o que eu sinta falta é da minha estabilidade financeira. O trabalho eu tenho, caramba! Quero que meu trabalho seja sustentável! Mas acredito nele e vou continuar no meu caminho!
 
     Mas, vejo que não é só comigo que isso acontece. Eu li uma vez na Casa e Jardim uma entrevista com uma blogueira que ficou muito famosa escrevendo sobre decoração. Ela é estrangeira e disse que na verdade, quando partimos para esse tipo de carreira, a mulher trabalha muito, anos a fio e não tem dinheiro ou remuneração por muitos anos. Para isso, precisa do suporte da família e muito fôlego e disciplina para dar conta de tudo e vive exausta por muito tempo porque não é moleza conciliar tantas tarefas do trabalho e ainda as domésticas, mas que é super compensador trabalhar com o que se ama e também poder cuidar de perto da família e da casa.
 
     Eu li também uma outra entrevista, com outra blogueira de decoração que ficou famosa, dizendo que quando trabalhamos para nós mesmas e de casa, alguma coisa não vai estar perfeita. Se a louça está limpa, tem e-mails por responder ou tarefas por fazer. Se tá tudo em dia no trabalho, a louça está lotada na pia.
 
     Ler depoimentos assim me fez acreditar que estou no caminho certo e que sou normal. Preciso respirar e prosseguir.
 
     Desde 2012 estou atuando efetivamente na Biblio Ideias e desde 2014, resolvi focar no marketing digital e trazer o projeto de inglês e o de patchwork para a Biblio Ideias, em forma de brindes e abri mão das semi jóias, porque não estava dando conta.
 
    2015 começou com muita energia e eventos a partir do projeto #mulheresnocomando, muito estudo a partir do CONAMÃE e vários congressos e eventos online, ideias pipocando, a equipe cresceu tem muitos projetos novos brotando. Eu consigo dar oportunidade para outras pessoas através da Biblio Ideias e também mobilizo uma rede de negócios provendo parcerias de sucesso. Começamos também esse ano a doar um pouco do nosso talento para projetos sociais como voluntários.
 
    Fácil? Não! Mas, encontrei várias mulheres empreendedoras no caminho, o que reforça que estou no caminho certo, e me sentindo empoderada e empoderando outras mulheres.
 
     Mas, ainda assim, ouvi outro dia de duas pessoas, que me conhecem desde a adolescência: "E aí, Marcelle, você não está fazendo nada? Não está trabalhando?"
 
     Oi? Como assim não estou trabalhando? Eu estou trabalhando para caramba!!! Vou dar um desconto porque essas pessoas não são da minha rede social virtual. Ufa!!!
 
     Aí, outro dia eu estava conversando em casa sobre uma das minhas amigas empreendedoras que tem um negócio próprio e concilia ainda com seu atual emprego e ouvi o seguinte: "Ah, ela trabalha?" Eu fiquei bege, passada porque afinal de contas, se ela não tivesse esse emprego formal,  apesar de ser dona do  próprio negócio, não seria considerada como alguém que trabalhe. Por que?
 
     Será que isso ocorre porque a pessoa ainda não tem um trabalho que a sustente de fato? Será porque ela ama tanto o que faz e atua com paixão que parece que ela está se divertindo?
 
     Ou será que é porque nós mulheres não deixamos claro o valor que damos ao nosso trabalho, o quanto é de fato trabalhoso, compensador e ao mesmo tempo lucrativo com relação ao tempo que temos para usar como queremos (tem recurso maior que esse?) e ainda poder cuidar de perto dos filhos, marido, casa? Ou será que precisamos vender mais e melhor nossa imagem de competentes e bem sucedidas.
 
     Conheço homens que trabalham para si e de casa e a postura deles é muito diferente quando fala do próprio trabalho. Eles falam que são ocupados, não tem tempo, que ficaram respondendo e-mail até tarde ou viraram fim de semana trabalhando e todos olham admiradamente, mas quando mulheres falam isso, vem a culpa, a pressão e a cobrança. Já vi mulheres relatando que se trancam no banheiro para responder e-mail, passar cotação, para que a família não reclame, especialmente o marido.
 
     Além de toda culpa que as mulheres, especialmente as mães carregam, existe a culpa por trabalhar demais e não dar tempo à família. Mas como equilibrar os pratos e equalizar essa questão? Ser dona do próprio negócio, ser sustentável, ter tempo para si, para o marido e filhos e ter sucesso? Afinal, o que é sucesso?
 
     Você se identifica? Conte sua história nos comentários, vamos incrementar esse papo!
 
     Eu escrevi essa coluna na sexta-feira passada, porque essa semana entrei de FÉRIAS, iurrul! Mas não queria deixar a coluna vazia. Comprometimento é meu nome e a internet tem recursos incríveis!
 
   É a primeira vez em 9 anos que tiro férias, acreditam? Não será em Veneza, Bahamas, Chapada Diamantina, Beto Carreiro, Búzios...nem a dos sonhos, mas são as minhas primeiras férias, com a Flavia me substituindo e eu podendo entrar no clima de férias escolares com Miguel, Luiza e poder recarregar as baterias de alguma maneira para trazer mais fôlego, produtividade para atender aos clientes Biblio Ideias, porque confesso que ando muito cansada e preciso respirar um pouco.
 
     Não vou parar totalmente, mas já é um bom começo para investir em sanidade, aproveitar o tempo, que é nosso mais caro recurso e que não volta e sugiro o mesmo para as empreendedoras que estiverem lendo o post.
 
     Trabalhar exaustivamente, sem parar, não significa que ficaremos ricas, ao contrário, que pifaremos em breve. Então, permita-se pausas, descansos, passeios e tenha alguém para te substituir!!!
 
     Ah, eu trabalho e sim, tiro férias!!! Fui!!! Bom fim de semana para vocês!!!
 
 
 
 
 



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